"Pretend you´re happy when you´re blue
It isn´t very hard to do.
- Escuta, Shimamoto-san-disse eu-, quando te foste embora, pensei muito em ti. Durante seis meses, de manhã à noite, não fiz outra coisa senão pensar em ti. Tentei que isso não acontecesse, mas sem conseguir. E cheguei a uma conclusão. Não posso viver sem ti. Não quero voltar a perder-te. Não quero voltar a ouvir as palavras "uma temporada". além de detestar a expressão "talvez". Passas a vida a dizer que, durante uma temporada, não nos podemos ver, e a seguir desapareces. Ninguém pode ter a certeza se regressarás ou não. Pelo menos eu não tenho. Pode muito bem aontecer que nunca mais regresses, e eu terei de acabar os meus dias sem ter a possibilidade de te rever. E confesso que esse pensamento é, aos meus olhos, insuportável. Caso isso acontecesses, a vida à minha volta perderia o sentido.
Shimamoto olhou para mim sem dizer nada, limitando-se a sorrir. Nos seus lábios desenhava-se o sorriso do costume, que não me permitia ir para além das aparências. Perante aquele sorriso, tinha a sensação de me perder, de não compreender os meus próprios sentimentos. Por breves momentos fiquei sem saber quem era e perdi a noção do espaço. Por fim, lá consegui encontrar as palavras que me permitiram continuar.
- Amo-te- confessei-, disso estou perfeitamente certo. Ninguém poderá substituir o sentimento que tenho por ti, um sentimento muito especial que não quero voltar a perder. Desapareceste da minha vida por mais uma vez, mas isso não pode voltar a suceder. Nestes últimos meses, dei-me conta do erro que foi ter-te deixado partir. Gosto sinceramente de ti e não quero que voltes a abandonar-me."
in A sul da fronteira, a oeste do sol.
Haruki Murakami
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