quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A mãe vai contar-te várias histórias...

Esta será a primeira dirigida a ti, daqui a uns anos, se a mãe não se fartar desta coisa do mundo cibernaútico (está bom assim tia Pipa?), onde se vai trocando as palavras com alguns olhares que por aqui passam, vais poder ler o que escrevi para ti. 

Escrevo porque não quero perder as ideias no tempo, quero-te dizer tanta coisa e teremos todo o tempo do Mundo para isso, mas assim tenho a certeza que te poderei contar algumas histórias, falar-te das coisas que a mãe gosta, que viu, das pessoas que fazem parte da sua vida e que serão também importantes para ti.

Hoje lembrei-me pela milésima vez nos últimos tempos do cão que tive quando era pequena e que me acompanhou até acabar a faculdade. Escrevi aqui que tenho saudades dele, mas não podia deixar de escrever sobre ele. O Xereta foi e é muito importante para a mãe, a sua imagem, calor e mau feitio perduram no tempo. Parece que o sinto todos os dias, principalmente agora que sei que vens a caminho. Uma espécie de guardião da mamã.

Às vezes quando estou sozinha à noite, com o Diogo Cão (o gato) de companhia, fico feliz por o ter, mas nada substitui o Xereta. Tenho a certeza que não iria sair da minha cabeceira e do meu colo estes meses todos. O gato vai tentando, mas são impacientes e não gostam de estar sempre atrelados aos donos, bastam-lhe 15 minutos e vai para o cantinho dele.

O Xereta foi comprado pelos avós no Centro Comercial de Alvalade (loja de animais) quando tinha 9 anos. Não sei se tinham a intenção de comprar um cão, mas recordo-me de me aproximar da montra onde estava e de ele ficar a olhar, de pegar nele ao colo e de ter pena da sua irmã ficar sozinha se o levasse para casa. Mas assim foi, ele nesse dia começou a fazer parte da nossa família. 

Quando chegámos a casa tocámos à campainha, o tio Rodrigo não sabia de nada e foi uma surpresa. Surpresa também para mim que pegava nele acima da minha cabeça e resolveu fazer um xixizinho, foi o Cocktail de Boas-Vindas. 

Depois confesso que não era eu que cuidava muito dele, apesar de todas as promessas feitas de longos passeios,  dar banho, comida, etc. Mas por algumas vezes ainda fomos dar umas voltas, não me portava muito bem com ele, estava sempre a fazer-lhe maldades, não muito bonito. Mas para mim ele era mais um irmão, por isso normal essa situação. 

O Xereta era a minha companhia nas tardes que passava sozinha depois da escola. Foi ele que viu as minhas primeiras experiências culinárias, às vezes até provou. Quando os meus amigos passavam por casa, ele servia de comando das tropas. Passou muitos natais em família, num deles resolveu comer o entrecosto, deixou os ossinhos o simpático.  E muitas outras coisas que estão guardadas no coração da mãe.

Nunca mais vou ter um cão que tenha o mesmo significado para mim, mas farei de tudo para tu teres um companheiro que te acompanhe como ele me acompanhou. Que te "lamba as feridas" de amor, que cuide de ti quando estiveres doente, que estude ao teu lado, que durma aos teus pés, que partilhe o amor e carinho dos teus amigos e, que complete a nossa família com muitos disparates e mimos caninos.

Acredita bebé que o cão é o melhor amigo do homem, já vi muitos homens rafeiros a atraiçoarem os amigos, mas cão...hummmm...difícil. 

O Xereta deixou-me no dia em que fui comprar as fitas para a Benção de Finalistas, no último ano da faculdade. Muitos dos amigos da mãe conheceram-no e adoravam-no, outros não tiveram esse prazer infelizmente. Foi um dia muito triste quando recebi a notícia. A decisão foi o pior, mas ele estava muito doente. Não me despedi dele, o tio e a avó sim, foram eles que estiveram com ele. Fiquei triste com isso, mas ficaria mais se eles não tivessem tido a coragem de fazer o que era melhor para ele. 

Fico feliz por ter sido um cão amado, respeitado, acarinhado, protegido e dignificado. Não poderia ser diferente com um "cão como nós".

Ficam por último as palavras de um escritor português, Manuel Alegre, que escreveu um livro que depois lerás quando tiveres paciência, que fala de um cão da mesma raça que o Xereta e que amava e foi amado como ele:


"Nunca como então eu senti o cão tão perto de nós. Sem propriamente ter mudado de feitio, ele estava por assim dizer mais atencioso, seguia-nos pela casa toda, estava, como nós, à espera, como nós, digo bem, como se fosse um de nós. E tenho de reconhecer que era. Um grande chato, sim, um cão rebelde, caprichoso, desobediente, mas um de nós, o nosso cão, ou mais que o nosso cão, um cão que não queria ser cão e era cão como nós".

“Cão bonito, dizia eu, em momentos raros. E era um acontecimento lá em casa. Os filhos como que se reconciliavam comigo, minha mulher sorria, o cão começava por ficar surpreendido e depois reagia com excesso de euforia, o que por vezes me fazia arrepender da expressão carinhosa.
Cão bonito. E ei-lo aos pulos, a dar ao rabo, a correr a casa toda.
Digamos que aquele cão era quase um especialista nas relações com os humanos. Tinha o dom de agradar e de exasperar. Mas assim que eu dizia – Cão bonito – ele não resistia. Deixava-se dominar pela emoção, o que não era vulgar num cão que fazia o possível e o impossível para não o ser.” Manuel Alegre

1 comentário:

Filipa M. disse...

Está bem assim e está lindo... Beijinho Bom!!