quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ruínas

Já tenho carta de condução. Ontem as curvas foram todas minhas. Voltei atrás no tempo e percorri o caminho da minha adolescência. As mesmas curvas, os mesmos traços, o mesmo caminho. Passei no adro da igreja dos inúmeros arraiais, revi memórias, os sorrisos a descobrir o mundo. A S. tinha um dos sorrisos mais bonitos que já vi, mas já lhe roubavam a inocência aos poucos. Eu só queria ficar ali a ser mimada, bem me parecia que já estava a adivinhar que isto cá fora não é assim tão bom.

Passei metade da minha vida a querer ser grande, passarei a outra metade a querer ser pequena outra vez.

Virei para o meu "castelo", como sonhei ser feliz nele, a minha casa de sonho, abandonada, sempre, com mistérios, cada vez mais embrulhada entre silvas e heras, a ruir, com histórias, com fantasmas. A minha casa de sonho é um castelo em ruínas.

Depois perdi-me, guiei sem destino, andei por estradas que confesso que ainda não entendi quantos sentidos tinham, senti um frio na barriga pela sensação de estar sem norte, por campos de alfazema e margaridas, pinhais, rebanhos, pastores a ouvir rádio pelo telemóvel e voltei a mim. Tu acordaste e tivemos de voltar.

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